terça-feira, 5 de abril de 2011

“Baixinho a argila dizia
ao oleiro que a torneava:
Já fui como tu, não te esqueças,
não me maltrates.

Oleiro, vai com cuidado, trata bem a argila
com que Adão foi conformado.
Vejo no torno que moves a mão de Feridun,
o coração de Khosru... o que fizeste?

A tulipa rubra nasce no campo que foi regado
pelo sangue de um altivo rei.
A violeta brota do sinal de beleza que palpitava
na face de uma doce adolescente.

Há tanto tempo giram os astros no espaço;
há tanto tempo se revezam os dias e as noites.
Anda de leve na terra, talvez aonde vais pisar
ainda estejam os olhos meigos de um adolescente.

As raízes do narciso que se inclina suave,
bebem a vida nos lábios mortos de uma mulher.
Pisa leve a relva macia, ela nasce das cinzas
de rostos tão belos quanto as tulipas.

O oleiro ia modelando as alças e os contornos
de uma ânfora. O barro que ele conformava
era feito de crânios de sultões
e mãos de mendigos.”


Omar Khayyam

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